sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Feito a mão

Há muito tempo eu tinha o impulso de usar um sketchbook. Principalmente, pela organização. Eu pego qualquer papel que esteja à minha frente para desenhar, não importa se é uma nota fiscal, um papelão qualquer ou um tipo de papel mais apropriado ao desenho. Nesse procedimento criativo estão inclusos também anotações diversas sobre artes gráficas, poemas ou frases que sucitem alguma idéia ou obra. Centralizar isso se tornou premente.

Confesso que usar um moleskine nunca me motivou muito. Sou muito reticente à grifes. E nesses tempos pós-modernos, acredito que se questionar sobre o real valor das coisas, a respeito de um dito "valor da marca", principalmente de algo produzido industrialmente, é uma tarefa importante e quase permanente da busca da consciencia sobre o que é uma necessidade real ou somente uma forma de suprir desejos pré-condicionados.

Resolvi fazer meu próprio sketchbook. Movido pela vontade de produzir algo artesanal, algo bem particular, um exercicio de subjetividade. Meu livro, com a capa de linho que eu imaginei, estendida, medida, cortada e colada por mim. A capa em tecido que me é prazerosa ao toque. Com as páginas no sentido e tamanho determinados pela minha vontade. Um exercicio de ideário particular e orgânico.

Fazer, desenhar e escrever em um livro de notas/rascunhos feito por mim seria uma forma de reflexão sobre a materialidade não valorada, não venal e sobre a imaterialidade da intuição e do pensamento resguardada nesta materialidade pretensa a uma existência posterior a mim. É uma reflexão contínua sobre o registro da memória, do ato físico no tempo e no espaço. Sobre o que permanece, sob o crivo do tempo, após a folha branca ser sujeita ao registro da idéia. O conceito de monumentalidade de Heidegger. O que sobrevive na obra de arte é o que o tempo não consegue destruir, primeiramente na imaginação do artista, e depois na apreensão do espectador.

Céllus















Fotos: Luíza Monteiro

Nenhum comentário: